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Fibras
Fibras

A IMPORTÂNCIA DAS FIBRAS NA NOSSA ALIMENTAÇÃO

Dra. Jocelem Mastrodi Salgado
Profª. Titular de Nutrição - Esalq/USP

A fibra, um dos componentes dos alimentos vegetais que nos seres humanos não pode ser digerida pelas secreções gastrointestinais, até pouco tempo era praticamente ignorada pelos pesquisadores da área de nutrição e alimentos. Por ser indigerível e de valor nutricional negligenciável, ela ficava de lado até mesmo na formulação de dietas saudáveis. Contudo, nos últimos anos este nutriente ganhou importância especial através de observações epidemiológicas e clínicas que relacionaram a ocorrência de certas enfermidades (doença cardiovascular, câncer de cólon, diabetes....) à dietas pobres em fibras. Além disso, os mecanismos de ação pelos quais as fibras normalizam a função gastrointestinal, prevenindo a constipação (intestino preso), já foram definidos pelos pesquisadores.

O objetivo deste artigo, portanto, é difundir a importância deste nutriente para nossa saúde, discutir os recentes avanços no campo das fibras alimentares e conscientizar as pessoas da importância de se aumentar a ingestão de forma a usufruir de todos os benefícios proporcionados por ela.

Década de 70 - Início das Pesquisas

O interesse que existe atualmente acerca da relação entre a ingestão da fibra alimentar e o risco de contrair enfermidades originou-se nas observações de dois médicos ingleses, Dr. Dennis Burkitt e Dr. Hugh Trowell que trabalharam na década de 70 em estudos na África. Eles observaram que a dieta dos africanos era baseada em alimentos ricos em fibras (cereais integrais, verduras, frutas e legumes) e que as doenças gastrointestinais, tais como prisão de ventre, diverticulite, diverticulose, hemorróidas e câncer de cólon eram praticamente inexistentes.

Essas investigações ganharam reforço também de estudos que demonstraram o aumento dessas moléstias em países com intenso avanço tecnológico, onde o consumo de alimentos de origem animal e alimentos refinados superou o consumo daqueles ricos em fibras. Nesses países, que inclui o Brasil, o avanço das doenças crônico degenerativas é assustador.

Por todos esses motivos, fica cada vez mais claro que o retorno à dieta a qual estamos geneticamente adaptados, que consiste em cerca de 85% de alimentos vegetais e apenas 15% de alimentos de origem animal, reduziria a incidência de muitas enfermidades comuns em países desenvolvidos. Tal dieta seria inevitavelmente rica em fibra proveniente de grãos integrais e de produtos à base de farelo, frutas, verduras e leguminosas e, obviamente, seria muito mais pobre em gorduras. Este tipo de dieta provocaria uma redução significativa na incidência do câncer e das doenças cardiovasculares que, em conjunto, respondem por cerca de 70 a 80% das mortes prematuras em sociedades desenvolvidas.

Fibra e a Prevenção de Doenças

As fibras presentes nos alimentos vegetais podem existir de duas formas: insolúvel ou solúvel. Embora essas duas frações atuem no nosso organismo de maneira diferente, ambas trazem benefícios à nossa saúde.

A fração insolúvel é encontrada nos cereais (farelos de um modo geral), hortaliças, frutas (especialmente nas cascas) e leguminosas. Este tipo de fibra atua principalmente na parte inferior do nosso intestino (intestino grosso), aumentando o volume fecal e fazendo com que haja a produção de fezes mais macias. Por isso, elas estão relacionadas à prevenção de prisão de ventre e de doenças como diverticulite e câncer de cólon.

Os mecanismos pelos quais as fibras insolúveis exercem seus efeitos são simples. Como elas não são digeridas e nem absorvidas pelo organismo, elas aumentam a quantidade de resíduos no intestino, o que aumenta o bolo fecal; e como essas fibras têm a capacidade de absorver água, as fezes ficam mais macias e a movimentação intestinal fica facilitada.

A fração solúvel é encontrada principalmente em alimentos como a aveia, cevada, frutas cítricas (bagaço), maçã (casca), goiaba e em certas gomas e mucilagens (goma guar, goma acácia, entre outras), muito utilizadas na indústria de alimentos como espessantes e fontes de fibras. Este tipo de fibra atua principalmente na parte superior do trato gastro-intestinal, mais especificamente no estômago e no intestino delgado, onde ocorre a digestão e absorção dos nutrientes. A ação dessas fibras nesses dois órgãos promove vários efeitos:

  • atraso do esvaziamento do estômago (promove saciedade = importante      no tratamento da obesidade)
  • atraso da absorção de nutrientes como a glicose ( promove menor      elevação da taxa de glicose no sangue = importante no tratamento do      diabetes)
  • aumento da excreção de ácidos biliares (promove menor absorção do      colesterol = importante no tratamento de doenças cardiovasculares)

O quadro abaixo apresenta resumidamente os benefícios do consumo de fibras para o nosso organismo.

BENEFÍCIOS DO CONSUMO DE FIBRA

Lipídios

  • Redução do colesterol total
  • Redução do LDL colesterol (mau colesterol)
  • Aumento do HDL colesterol (bom colesterol)
  • Redução dos triglicerídios

Glicose

  • Redução da hiperglicemia (controle do diabetes)
  • Aumento da sensibilidade do músculo à insulina

Pressão sangüínea

  • Redução da pressão sistólica e diastólica

Controle de peso

  • Redução da ingestão de energia e gorduras
  • Aumento da sensação de saciedade
  • Alguma perda da energia consumida

Problemas intestinais

  • Alívio da prisão de ventre
  • Prevenção de doenças como diverticulite, câncer de cólon e síndrome      do intestino irritado

Recomendações para prevenir doenças

Embora não haja recomendações específicas em relação à quantidade de fibras dietéticas, vários estudos recomendam um aumento da sua ingestão. O "National Cancer Institute" (Instituto Nacional do Câncer) recomenda uma ingestão diária de 20 a 30g, com um máximo de 35g. O excesso de fibras pode interferir com a absorção de zinco e cálcio, especialmente em crianças e idosos.

A ingestão deve consistir de quantidades iguais de fibras solúvel e insolúvel e pode ser obtida com 5 ou mais tipos de frutas e vegetais e 6 tipos de grãos totais (cereais e leguminosas). Deve ficar claro que não é possível obter quantidades adequadas e variadas de fibras apenas pela ingestão de grandes quantidades de frutas e vegetais, já que esses possuem menor quantidade de fibras quando comparados aos grãos integrais, devido ao seu alto teor de água.

Alimentos ricos em fibras (em ordem decrescente) são:

  • Cereais processados à base de farelo (farelo de trigo, arroz,      aveia, cevada, etc)
  • Leguminosas (feijão, ervilha, grão de bico, lentilha, etc)
  • Frutas (maçã, pêra, goiaba e pêssego com casca, frutas cítricas      como laranja e mexerica incluindo o bagaço, uva-passa)
  • Hortaliças (batata com casca, brócolis, cenoura, couve, repolho,      etc)

Dicas para enriquecer sua alimentação com fibras

Existem várias formas de você obter uma quantidade maior de fibra na sua alimentação do dia a dia, veja algumas:

  • Consuma várias porções de frutas ao dia. Dê preferência à fruta      inteira em vez do suco. E para obter uma maior quantidade de fibras      procure comê-las com casca e bagaço, se for possível;
  • Aumente o seu consumo de cereais e leguminosas. Selecione cereais      integrais ou produtos à base dos mesmos, em lugar de cereais refinados.      Para obter uma maior quantidade de fibras, procure adicionar farelos de      trigo, aveia, arroz, etc no preparo de bolos, sopas e vitaminas;
  • Aumente o consumo de hortaliças. Uma dica é adicionar farelo de      talos e folhas no preparo de sopas, refogados, bolinhos, etc;
  • No lanche das crianças, substitua doces e frituras por frutas      frescas;
  • Nas refeições em restaurantes, inclua verduras e saladas e peça      frutas como sobremesa.

Últimas considerações

Embora alguns aspectos ainda necessitem de pesquisas e avaliações mais profundas, principalmente no que tange à interação da fibra com os nutrientes da dieta, toda informação existente indica a importância das fibras na alimentação e na manutenção da saúde. A prova mais consistente do efeito protetor deste nutriente está relacionada à prevenção do câncer colorretal, tendo-se verificado que as dietas ricas em fibra estão associadas a um decréscimo aproximado de 40 a 50% no risco de se adquirir este tipo de câncer.

Sendo assim, a minha sugestão é: aumente o seu consumo diário de fibras, mas não se esqueça que esse aumento deve ser gradual e acompanhado de um aumento no consumo de água.